domingo, 18 de setembro de 2011


Chá da tarde com Carla Caffé
Com seu olhar sereno e um sorriso cativante, a arquiteta Carla Caffé recebeu o ar.v Studio em seu ateliê em São Paulo para um bate-papo, apresentando sua linha de trabalho e sua percepção sobre a cidade.
 
Formada em Arquitetura pela FAU-USP, Carla Caffé, 46, trabalha com ilustração, editoração, direção de arte em televisão, teatro e cinema. Editou a coluna semanal “Cidade nua”, no jornal Folha de São Paulo durante quarto anos.

Seu mais novo trabalho, o projeto A[E]REA Paulista é uma continuidade do trabalho realizado no livro Av. Paulista (Coleção Ópera Urbana, editora Cosac Naify e SESC edições, 2009), onde a criatividade explora um discurso sobre a cidade de maneira inovadora e artística.

O despertar do espaço público e a metodologia de observar e registrar uma vivência de desenhar na própria rua, um lugar de todos, trazendo mais emoção em cada traço da perspectiva dos edifícios urbanos, destacando a importância de desenhar a nossa cidade, colocando-a no mapa e tendo o desenho como forma de conhecimento numa mistura do real e da utopia. Em uma paisagem construída através de cálculos poéticos-mentais sobre a topografia do espigão da Av. Paulista, brincando com a percepção da cidade. O conjunto exercita a memória e fortalece a identidade da capital paulista.

Sua formação acadêmica permitiu liberdade artística e lhe abasteceu de conceitos que aprimora e aplica em todas as áreas as quais se dedica. A arquitetura é um conhecimento muito amplo que mexe com o universo de arte e tecnologia, diz Carla.

“Estamos diante da geração mais bem preparada do ponto de vista de habilidades, capaz de usar ferramentas adequadas para facilitar a expressão da criatividade de maneira rápida e didática. Por um lado, a produção artística setoriza, instrumentaliza e individualiza o trabalho, que antes era de um grupo, nas mãos de um profissional. Por outro lado, a tecnologia democrática, pois todos podem hoje em dia com uma câmera produzir um curta, ou mesmo um longa, e publicar na internet.”

O universo virtual, as informações e construções são crescentes. Esta é uma questão que afeta os novos tempos. E o amanhã? Já notou que não se anda na cidade? Quem diria que a gastronomia teria todo o requinte e sofisticação de hoje? Antigamente não se pensava assim. A culinária era trabalho das vovós – a atmosfera do colo, do conforto, do quentinho. Seria um resgate do passado de uma maneira inovadora e atual?



A sociedade muda constantemente. Perdem-se as essências, ganham-se outras e os valores mudam. Não cabe a nós deduzirmos o futuro, porém se hoje o mundo está cada vez mais virtual, se houver, qual será o resgate do passado? A arte de encontros e desencontros? Quem sabe a mentalidade de pensar no espaço público e na relação do entorno se torne uma preocupação e um dever de todos. Porque não, nós não queremos nos alimentar de pílulas.

Por Sophia Skipka