quinta-feira, 26 de abril de 2012


Rap no estilo ‘lion man’
Criolo faz show hoje no Sesc Taubaté; em entrevista, fala sobre carreira e Pinheirinho


Do outro lado da linha telefônica, uma voz calma e um pouco rouca responde com calma às perguntas. “Um amigo queria gravar um vídeo e eu tinha essas ideias na cabeça. Um outro amigo desse meu amigo colocou na internet”, conta Kleber Gomes, o dono da voz calma, sobre a sua versão de “Cálice”, que ganhou elogios e atém um rap- homenagem do autor original - Chico Buarque.
Criolo é o nome artístico com o qual Kleber ganhou diversos prêmios no ano passado - revelação, melhor música e melhor disco, no VMB, da MTV Brasil; revelação - música popular pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). 
Fazendo um rap pouco usual, ele não tem receio de colocar no mesmo álbum o samba, o afrobeat e até o bolero, alternando entre as rimas e o canto.
Distante da aura de “artista do ano”, ele mantém uma postura simples ao falar de seu trabalho, de sua história e dos parceiros de ontem e hoje, inclusive citando dois do Vale.
“Tem o MC Ralph (de Taubaté), que eu participo de um dos discos dele. Tem também o DJ Sleep (de São José), que é um grande artista da região e poucos sabem. Mobilizou ações, chamou atenção para o Pinheirinho. Ele me convidou, mas não pude comparecer. Na medida do possível, tento fazer as coisas, mas com sinceridade”.
Ele complementa a explicação. “Não adianta fazer a mais, acho que tem que ter cuidado. Porque senão, em vez de você contribuir com a parada, você é mais um a se aproveitar da coisa. Não estou dizendo que quem faz isso se aproveita, de forma alguma, mas tem que ser sincero”.

Pinheirinho. De longe, um dos nomes mais ligados ao caso Pinheirinho na mídia foi o de Criolo, que após a reintegração de posse que desabrigou 1.700 famílias em São José, sempre cita o episódio em seus shows. “Se acontece algo de horrível aqui, é ruim pra todo o mundo. É um efeito dominó do mal”. O papel que ele assumiu - e que não eleva ao patamar de obrigação artística - é parte de sua forma de ver o mundo - lapidada por 24 anos de luta em forma de carreira.
“Não posso agir com hipocrisia. Heróis são essas pessoas que tem historias, que estão lutando. Eu sei que é pouco o que eu faço. Às vezes você está colaborando, mas pode estar atrapalhando. Aí você vê o quanto é pequeno e impotente. O poder continua na mão de poucas pessoas que decidem tudo”, explica sua preocupação, em tom de desabafo.
Com uma postura de intérprete - parecendo sentir o que cada palavra da música quer dizer - ele explica que sua formação é autodidata.
“Nunca fiz aula de canto. Não sei tocar instrumento. E a forma como abordo os temas é muito do meu jeito. Escrevi cada verso, não esqueço porque escrevi aquela canção. Não é nada forjado. É algo muito especial”, explica ele, ao melhor estilo, como diz sua música, “Lion Man”.

Criolo
Show ‘Nó na Orelha’
Quando: Hoje
Horário: às 21h
Local: Sesc Taubaté
Av. Milton de Alvarenga Peixoto, 1264, Esplanada Santa Terezinha
Tel.: (0xx12) 3634-4000

Fábio França
São José dos Campos
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